Jiu-Jitsu Old School

Jiu-Jitsu Old School

Entrevista concedida ao Facebook Jiu-Jitsu Velha Guarda (Lisboa / Portugal), publica no dia 5 de janeiro de 2016.

Conforme prometido, hoje publicamos uma entrevista sensacional com um dos maiores nomes da história do jiu-jitsu, Mestre Fernando Pinduka, discípulo do mítico Mestre Carlson Gracie e excelente representante da “arte suave”. Muito obrigado Mestre Pinduka pela entrevista:

Jiu-Jitsu Old School:

Este ano tivemos a oportunidade de visitar a sua academia na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Um verdadeiro museu. Como começou a sua caminhada no Jiu-Jitsu e quantos anos de prática?

Mestre Pinduka:

Eu comecei no Jiu-jitsu aos 12 anos de idade. Estou com 62. Agora em 2016 farei 50 anos de prática de Jiu-jitsu. Eu comecei no Jiu-jitsu jovem, garoto ainda, com o objetivo de me defender na rua. O Jiu-jitsu não tinha nem federação na época e as aulas eram muito baseadas em auto defesa. Não existia campeonato de Jiu-jitsu. Isso foi em 1966. A federação foi fundada em 1968. Disputei campeonato de 1970 à 1985. Fiquei invicto esse tempo todo e nunca fui finalizado em competições de jiu-jitsu.

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Aluno fiel do Grande Mestre Carlson Gracie, figura importantíssima da história do Jiu-Jitsu. Se pudesse resumir a personagem Carlson Gracie em apenas uma frase, o que diria?

Mestre Pinduka:

Carlson Gracie foi um pai para mim. Tudo que eu aprendi eu devo a ele, apesar de ter frequentado o clã da família, ter acesso à toda a família, Hélio Gracie, Carlos Gracie, eu era aluno direto do Carlson Gracie. Discípulo da família, mas aluno direto do Carlson Gracie. Então o Carlson Gracie sempre teve uma paciência, teve uma veneração em mim sabendo que eu ia dar fruto, e ia me tornar um campeão. Então, ele confiou em mim e eu sempre fui fiel ao Carlson Gracie.

 

 

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Surgiu quase que um mito em torno da equipe Carlson Gracie, cheia de cascas-grossas, com nomes como Fernando Pinduka, Serginho de Niterói, Banni Cavalcante, Ricardo de la Riva, Wallid, Ricardo Libóro, Zé Mario Sperry, Amauri, entre tantos outros. Como eram os treinos e qual era o segredo de tanto sucesso nas competições quer de jiu jitsu, quer de vale tudo?

Mestre Pinduka:

Isso é muito fácil de explicar. Além desses ai ainda tinham muitos outros, muito mais e mais. Era um verdadeiro exército, e você tinha treino de tudo quanto era espécie e material humano possível. Baixo, alto, gordo, magro, forte, técnico, ágil, pesado, leve, qualquer tipo de ser humano possível você encontrava lá. A academia ficava aberta de manhã, de tarde e de noite. Se você quisesse chega lá às 4 da tarde e sair às 10, você saía. Chegava de manhã, tinha treino a qualquer hora. Treino com qualquer pessoa. Os próprios alunos, um ia instruindo o outro, e as outras academias tinham horários marcados para aula, eram alunos que tinham horários definidos para treinar. Então o volume de treino e o volume de material humano que o Carlson tinha era impressionante. Então, quando você chegava no campeonato já estava hiper treinado e em consideração aos adversários que não tinham a mesma característica de treino, a mesma intensidade, o mesmo volume. Então quando chegava no campeonato isso dava uma diferença incrível.

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Existe um monte de histórias divertidas sobre o Mestre Carlson. Tem alguma história particularmente engraçada que queira partilhar connosco?

Mestre Pinduka:

O Carlson era uma figura muito divertida. Gostava de sair com os alunos. Gostava de comer. A grande diversão dele era sair para comer com uma porção de gente. Ir para restaurante e gostava de jogar baralho, gostava de jogos, de apostas. Gostava de apostar em galos de briga. E ele tinha determinadas situações que ele cismava com alguma coisa. Então, em uma dessas situações foi em relação a uma história que eu vou contar que ele me levou para ver uma luta de galo de briga e ficava lá o dia inteiro, eu já estava enjoado de estar lá, queria ir embora. E não, mais uma briga, mais uma briga, mais uma aposta daqui, já estava duro. Já estava sem dinheiro nenhum. O último dinheiro que ele tinha apostou. Chamou um cara que estava lá, que entendia de briga. “- Qual o galo que eu aposto aqui? O preto ou o prateado?” Ai o cara, olhou, pensou, “aposta no preto”. O Carlson, perguntou, “- Mas qual é o bom? Não mente para mim não, qual é o bom?” O cara pensou de novo e disse: ”- não, aposta no prateado que o prateado é o bom”. Daí o Carlson pegou o último dinheiro que tinha e apostou no prateado. A briga começou, o preto, pegou o prateado. O prateado fugiu do ringue, levou umas bicadas lá, saiu machucado. O Carlson ficou transtornado chamou o cara. “- Pô você me enganou. Falou que o prateado que era o bom.” O cara falou assim, “- Olha seu Carlson, você perguntou qual era o bom, o bom era o prateado, agora se você tivesse me perguntado qual era o mau, o mau era o preto.” O Carlson em vez de perguntar qual era o melhor, tinha perguntado qual era o bom. Por fim, ele ficou duro, perdeu a aposta, e veio embora. “- Qual é o bom?” Não soube nem perguntar. Se ele tivesse perguntado quem é que iria ganhar a luta? O preto é o melhor, o preto vai ganhar. Mas agora “- Qual é o bom?” O cara entendeu qual era o bonzinho. Se ele tivesse perguntado qual era o mau, o mau seria o preto.

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O Mestre viveu numa época em que o Jiu Jitsu era constantemente testado e desafiado por outras Artes Marciais. Fale-nos um pouco dessa época. Tem alguma história interessante para contar?

Mestre Pinduka:

Eu lutei contra tudo que era arte marcial possível e imaginário que você possa saber que existe na terra. eu lutei contra capoeira, karatê, judô, aikidô, boxe tailandês, kung-fu. Porque naquela época o jiu-jitsu era pouco conhecido. E os caras subiam na academia de curiosidade ou para desafiar. E eu como era um dos principais alunos do Carlson, o Carlson sempre me botava para lutar contra esse outros tipos de arte marcial. E 90%, 95% os caras apanhavam e entravam para aluno. Eles perdiam as lutas, a gente ganhava fácil dos caras e depois que eles reconheciam a superioridade do Jiu-Jitsu entravam para aluno.

 

 

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Foi fruto desse clima de teste que surgiu a oportunidade de enfrentar o Marcos Ruas? Como foi essa luta, que lotou o Maracanazinho?

Mestre Pinduka:

Essa luta teve uma história anterior, que o sobrinho do Rolls brigou com o sobrinho do Molina, que era professor de boxe tailandês, lá no Flamengo. Ai eles brigaram, tal.. E parece que o sobrinho do Molina bateu no sobrinho do Rolls, cuspiu na cara dele, e falou que o Gracie era merda, não sei o que… E o outro sobrinho do Rolls foi, pegou e bateu no sobrinho do Molina. Depois ele pegaram mais dois, três caras, fizeram uma covardia contra um cara que já tinha apanhado. Briga de adolescente , de garotada lá. Ai o Rolls ficou chateado com a covardia, foi na academia do Molina para resolver a situação. Invadiram a academia do Molina, quebraram tudo, bateram no Molina e resolveram a parada. Logo depois o Rolls morreu e o Molina quis ir à forra, e arrumou esses caras, o Eugênio Tadeu, Marco Ruas, esse pessoal da Luta Livre, treinaram escondido e dois anos depois vieram no jornal desafiando os Gracie. O desafio tinha sido aceito, já era fim do ano e a luta tinha que se desenrolar logo. Nós fomos pegos de surpresa, não tínhamos nem equipe para lutar, não tinha nada. Tínhamos 10 dias para o evento que foi marcado no Maracanãzinho. Fizemos a equipe as pressas e aceitamos o desafio e fomos lutar. Ai eu fui escolhido para lutar contra o Marco Ruas. Nem sabia quem era o Marco Ruas, e ele nem sabia quem eu era. Eles queriam lutar contra a família Gracie, o Marco Ruas queria luta contra o Rickson. Mas o professor Hélio resolveu botar os alunos. Naquela época a gente treinava lá, eu não dava aula jiu-jitsu, ninguém dava aula, só treinava lá. Dai o Helio falou, não vai botar os alunos, se eles ganharem dos alunos, dai entra o pessoal da família. Ai nós demos conta do recado, eles pediram a revanche depois, perderam novamente, e botaram a viola no saco e aceitaram a superioridade do Jiu-jitsu. Foi um evento que deu muita repercussão, lotou o Maracanãzinho e acirrou uma rivalidade durante anos entre a Luta Livre e o Jiu-Jitsu.

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Sabemos que o Mestre é um fervoroso defensor do jiu-jitsu para a finalização e da defesa pessoal. Este sistema de pontos utilizado nas competições desvirtua a verdadeira essência do jiu-jitsu como arte marcial?

Mestre Pinduka:

Eu acho que sim porque eu fui campeão, disputei campeonato, existia a contagem de pontos mas tinha finalização. Nós lutávamos sempre para finalizar. A luta vencida por pontos era uma consequência de uma luta ofensiva que não gerava finalização e tinha a vitória por pontos. Hoje em dia não. Além dos pontos criaram a tal da vantagem, que não entra na minha cabeça o que é a vantagem. Então o lutador luta por uma vantagem. Não luta nem por ponto. Então são lutas amarradas e que desenvolvem determinadas técnicas defensivas de imbróglio, fica embromando um com o outro lá, e não desenvolve a finalização que é o principal fundamento do jiu-jitsu. A finalização está para o Jiu-jitsu que nem o gol está para o futebol. O lutador que entra numa luta, em um embate, e não busca a finalização eu acho que está num Jiu-jitsu fora de propósito. A luta tem que ser ofensiva, tem que buscar… , mesmo que não acabe em finalização você tem que ver e entender os lutadores foram para finalizar, foram para buscar a finalização, um contra o outro. As vezes não dá porque são dois adversários tecnicamente, com gabarito superior que um não consegue finalizar o outro, mas você vê nitidamente que eles jogaram com o intuito de finalizar, jogaram para frente. Agora, hoje em dia, que eu percebo, é que existem lutas demasiadamente defensivas, que os caras não querem se expor. Os caras lutam para não perder, não lutam para ganhar. Antigamente a gente lutava para ganhar, hoje o cara luta para não perder.

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No seguimento da questão anterior, pode-se dizer que hoje existem 2 correntes do jiu-jitsu? Isto é, um jiu-jitsu de defesa pessoal e outro jiu-jitsu esportivo? Ou existe apenas 1 jiu-jitsu, onde todo o curriculum deve ser estudado?

Mestre Pinduka:

No meu modo de ver não, só existe um Jiu-jitsu. Onde eu aprendi o Jiu-jitsu quando você entrava entrava na academia, na minha época, você tinha um programa de 36 aulas de defesa pessoal. Depois que você ia para o chão. Aí com o advento do Jiu-Jitsu desportivo houve essa mudança. Esqueceram a defesa pessoal, deixaram de lado a defesa pessoal e o aluno já entra para disputar o campeonato. Então modificaram no decorrer do tempo, mas a essência do Jiu-jitsu é uma só. E o Carlos Gracie, quando eu era juvenil, ele falou para mim. “Meu filho o Jiu-jitsu é uma arte marcial científica de ataque e defesa. O Jiu-jitsu foi colocado como esporte para divulgação, mas a sua essência é de auto defesa, de defesa pessoal.” O Jiu-jitsu foi feito para você se defender de agressões e a filosofia do Jiu-jitsu para você utilizar o Jiu-jitsu mental. O Jiu-jitsu psicológico. Para você vencer na vida, enfrentar os adversários da vida, para você vencer a vida, ter força interior, uma força psíquica motora para você enfrentar os adversários que a vida te impõe. E se defender das agressões do mundo violento, do mundo físico, dos agressores, dos vagabundos, das pessoas agressivas, covardes. Agora o Jiu-jitsu desportivo foi criado para desenvolver o Jiu-jitsu. E hoje em dia inverteu, os valores foram invertidos. A defesa pessoal está sumindo, hoje não existem pessoas que sabem se quer demonstrar situações de defesa pessoal e lecionar defesa pessoal e só querem desenvolver o Jiu-jitsu desportivo e o Jiu-jitsu desportivo capenga. Por que o Jiu-jitsu que mostra somente ações defensivas. Para o cara lutar e não perder ficar com aquele jogo trancado e você deixa a finalização de lado. Então estou vendo o Jiu-jitsu que está sendo espalhado pelo mundo, é Jiu-jitsu altamente deficiente, não é aquele Jiu-jitsu tradicional que eu aprendi.

 

 

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A questão do tempo e da amarração das lutas. Hoje em dia, com lutas de 10 minutos na faixa preta e lutas mais curtas nas outras faixas, por vezes, a capacidade atlética do competidor prevalece sobre a técnica, havendo ainda a questão da amarração. Acredita que a superioridade técnica de um atleta só é totalmente provada numa luta sem tempo, onde vence quem finaliza?

Mestre Pinduka:

Não. Todos aqueles caras que você citou anteriormente, que treinavam lá no Carlson que foram campeões. Nós treinávamos para frente, para finalizar. Esse negócio de amarração é de um tempo para cá. Não tinha isso naquela época. Na minha época faixa azul era 6 minutos, faixa roxa era 7, marrom 8 e preta 10. Não existia vantagem, existia pontuação. O que que era pontuação? Você passava a guarda ganhava três pontos, você montava pela frente ou pegava pelas cotas ganhava 4 pontos. Você dava uma queda completa, começando em pé 2 pontos, e uma raspagem que você saía de baixo, invertia a luta você ganhava 2 pontos. Então tinham cinco fundamentos que você ganhava ponto: queda, raspagem 2 pontos, passagem de guarda 3, montada pela frente quatro, e pegada pelas costas quatro. Só isso bastava. Criaram essa vantagem, essa vantagem deu um suporte para começar esse mecanismo de amarração. Porque você começou a lutar por vantagem, uma situação inferior ao ponto. Então se tornou outro atrativo para desprezar a finalização. Se eu ganhei por vantagem ou se ganhei por ponto porque que eu vou me desgastar para tentar a finalização? Vou fazer quatro, cinco, seis lutas e vou me empenhar para finalizar? Se eu passo a guarda do cara, ganho a meia guarda ali, fico deitado em cima do cara e vou ganhar a luta. Porque eu vou ter mais luta pela frente, vou me desgastar. E além do mais hoje a preparação física que tem hoje por aí é meia fraudulenta. Pelo que sei, os caras tomando vários tipos de substâncias, bombas para ganhar força, para ganhar não sei o que. Na minha época não tinha nada disso, ninguém tomava nada. Os atletas iam com a técnica e a resistência física, que a qualidade física primordial para o Jiu-jitsu, a resistência aeróbica e anaeróbica. Resistência muscular localizada, força natural, muita flexibilidade, agilidade, isso eram os fatores que você tinha. Para lutar aliada a uma técnica muito apurada. Hoje em dia a técnica caiu de produção, as qualidades físicas mudaram, se passaram a ser artificiais, e essas regras que estão aí, essas novas regras com essas vantagens, estão proporcionando que o lutador escolha jogar sem precisar avançar. Jogar para não perder. Faz quatro, cinco lutar para não finalizar ninguém. É um Jiu-jitsu que eu não acho legal, não acho bom, esse Jiu-jitsu que estão exportando para vocês aprenderem é um Jiu-jitsu que não entra na minha cabeça. Eu vejo pelo Estados Unidos, pela Europa. Cria-se o Metamoris, o Rickson faz esse evento de 20 minutos para provar realmente quem é o verdadeiro campeão e quem tem a técnica mais apurada. É uma luta mais honesta para desenvolver quem é o melhor.

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Existe uma fotografia clássica do Mestre num torneio de Luta Olímpica, onde figuram o Rolls, o Rickson, entre outros. Qual a sua visão sobre a conjugação do jiu-jitsu com disciplinas complementares como a luta olímpica, o judô ou o sambô?

Mestre Pinduka:

Levando em consideração que o Jiu-jitsu é o pai de todas as lutas. Todas as lutas saíram do Jiu-jitsu, o Jiu-jitsu foi criado há 2.500 anos antes de Cristo por monges budistas, então está comprovando que as lutas que estão aí e que circundam o cenário das artes marciais são derivadas do Jiu-jitsu. A Luta Olímpica nada mais é do que a parte de projeção do Jiu-jitsu, a parte de clinche do jiu-jitsu, de luta aguarrada, para colocar no chão seguida de uma imobilização. O judô é a parte técnica de projeção do Jiu-jitsu. O Karatê a parte traumática do Jiu-jitsu. O Aikido a parte de torções do Jiu-jitsu. E por aí vai, as lutas derivadas do Jiu-jitsu seguem as suas derivações, seguem seus caminhos, mas se for buscar um histórico saíram do Jiu-jitsu. Então o Jiu-jitsu é um todo e as outras lutas são partes de um todo. Então é por isso que o Jiu-jitsu tem uma facilidade para quem pratica desenvolve outras lutas.

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Ao entrevistar o Mestre Pinduka, é impossível não falar de curriculum académico. O Mestre tem 4 pós-graduações e uma forte ligação a Pedro Gama Filho e à Universidade. Fale-nos um pouco sobre isso.

Mestre Pinduka:

Bom, eu comecei a minha vida desportiva com 8 anos de idade, comecei nadando. Depois comecei a jogar futebol de areia. Dos 8 aos 12 anos. Joguei o futebol de areia de 12 anos até 36 anos. Comecei o Jiu-jitsu também com 12 anos, lutei campeonato até 35 anos. Depois lutei ainda o master, o senior. Eu sempre tive uma vocação esportiva foi muito grande, e eu já estava complementando meus estudos e sabia que eu queria fazer Educação Física. E ai, me formei na Gama Filho, em Educação Física, em 1978, quando eu ganhei a faixa preta também esse ano. A Gama Filho era uma instituição, uma universidade que dava oportunidade aos atletas, então você ganha bolsa, naquela época não tinha Jiu-jitsu lá, eu lutei o judô universitário e fui campeão pela Gama Filho, ganhei bolsa de estudo, conheci o Professor Pedro (Professor Pedro Gama Filho – Reitor da Universidade Gama Filho), e assim que eu me formei em Educação Física, depois fiz a monografia para colocar o Jiu-jitsu como matéria da faculdade. E nesse período, eu fui fazendo várias outras pós-graduações, treinamento desportivo, fui fazer pedagogia do movimento humano, fiz motricidade humana, e depois tive que fazer docência universitária para poder lecionar na faculdade, a matéria foi aprovada. Fiquei de 1994 até 2000 como matéria acadêmica, nesse ínterim, eu comecei o curso de fisioterapia também, me formei em fisioterapia e depois o Professor Pedro morreu. Teve um problema de câncer na garganta. A Gama Filho entrou num declínio muito profundo até terminar, mas eu me tornei muito amigo dele. Quando eu lecionava lá ele tinha aulas particulares comigo. Depois que eu acabava a minha aula da parte acadêmica eu ia para o tatame com ele, tirava as dúvidas lá comigo. Concedeu várias bolsas de estudo, me mandou para a Europa três vezes para fazer uma aproximação com o “Ju-Jitsu” Europeu, que tinha um Italiano, Rinaldi Orlandi, o senhor Baguenha, um espanhol, que eles tinham uma federação de “Ju-Jitsu”, a mistura de judô com o karatê, com o intuito de aproximar o Brasil desses países, dessa federação, para haver a possibilidade de tornar o Jiu-jitsu um esporte Olímpico. Para eles aceitarem as nossas regras, do Jiu-jitsu brasileiro, mas não deu certo porque a confederação do Brasil, não se interessou, por motivos políticos. Eu tive a oportunidade de dar seminário na França, fui a Grécia, em Corfu. Eles faziam um Summer Camp, com 59 países. Fui muito bem recebido lá. Estive na Espanha também, em Portugal, e infelizmente não deu certo. Daí o Professor Pedro desistiu da ideia, amigo no Nuzman (Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro) também. A Confederação não aderiu e ele rumou para a Luta Olímpica. Virou presidente da Luta Olímpica e o Jiu-jitsu seguiu o seu rumo natural, como está até hoje, como esporte não Olímpico. Tivemos a oportunidade de fazer a equipe da Gama Filho também. E por cargas do destino ele faleceu e o projeto universitário foi todo por água a baixo.

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No seguimento da questão anterior, que conselho dá à garotada para conseguirem conciliar os estudos e o desenvolvimento académico com a prática do jiu-jitsu?

Mestre Pinduka:

O conselho é você saber dividir as horas, que eu fiz isso muito bem quando era jovem. Minha mãe me obrigava a estudar e sempre complementava os estudos. Tinha horário para tudo. Dividia os horários. Horário para se alimentar, horário para estudar, horário para a escola, horário para treinar, horário para namorar, saber explorar as horas. Se alimentar muito bem, não usar drogas, não beber, não fumar, e ser um cara totalmente voltado para o esporte. O esporte é um caminho muito bom para essa juventude aprender e se tornar um cidadão de bem e largar esses jogos eletrônicos que deixam as pessoas robotizadas em casa, e não fazem um trabalho psico motor, não desenvolvem a sua força motora, o seu raciocínio, através do esporte. O esporte é a saída para muita gente que estava numa situação difícil para entrar no mundo, ser aceito numa inclusão social num mundo que está muito difícil de se viver hoje em dia. Então esse é o meu recado para o jovens sair fora das ofertas de drogas e de bebidas e se especializarem cada vem mais no esporte. E aquele slogam que a gente sabe: “Só o Jiu-jitsu salva”. Um forte abraço.

ENTREVISTA: FERNANDO “PINDUKA”

ENTREVISTA: FERNANDO “PINDUKA”

Faixa Vermelha e Branca de Jiu-Jítsu (8º grau) fala sobre o inicio no esporte; o aprendizado e influência deCarlson Gracie na sua vida; o épico combate com Marcos Ruas e opina sobre os mais técnicos atletas de competição na arte suave atualmente.

Mestre Pinduka, há quantos anos na prática do Jiu-Jitsu?

Iniciei em 1966 com o Prof. Hélio Vígio. Quando ele se tornou policial ficou sem tempo de dedicar-se à academia e me indicou ao Prof. Carlson Gracie, em 1968, quando iniciei sob seu comando. Agora, em 2016, faço 50 anos de prática.

Você é formado pelo saudoso mestre Carlson Gracie e hoje um dos mais graduados, ainda vivo (faixa vermelha e branca – 8º grau), que sempre defendeu a filosofia e a metodologia de ensino da Escola Gracie… O que o Carlson tinha e prezava em seus ensinamentos que era tão diferente das outras academias? 

O grande diferencial do Carlson é que ele ensinava e cobrava uma perfeita execução de todas as posições clássicas do BJJ e preconizava  intenso volume de treino. Como o material humano era muito diverso e numeroso,  as seletivas da academia eram mais disputadas do que os próprios  campeonatos. Talvez as outras academias não tivessem um ritmo de treino tão intenso como o nosso, e isso seria fator de um possível diferencial.

Qual aquele treino (atleta) que você falava: “treino cascagrossa esse aqui….” ? 

Eu aprendi treinando sempre com os mais graduados. Eram os que me faziam aprender  perdendo, para que eu pudesse ganhar nas competições. Quando eu era faixa azul, treinava só com marrom e preta e dificilmente treinava com alguém da minha faixa. Aprendi muito com os graduados da minha época que faziam parte da primeira geração de alunos do Carlson. Entre eles: Carley Gracie, Rocian Gracie, Rolls Gracie (faixa marrom na época) Edir, o Monge Ata, Rorion Gracie, Reyson Gracie, Sergio Iris, Tony de Pádua, Vander de Souza, Mário Cupertino, Fábio Macieira e um exército de pupilos ávidos em aprender. Eu fui da segunda geração.

E nas competições da sua época, quem era a famosa “pedra no sapato” no caminho do Fernando “Pinduka”? 

Não tinha pedra no sapato. Eu era orientado para lutar sempre da mesma forma, ofensivamente e desenvolvendo as posições clássicas com exatidão e sempre objetivando as finalizações, que quando não acontecia, a vitória vinha por pontuação alta. Era um BJJ muito diferente do que existe hoje; sem jogo truncado e sem amarrações. Era um Jiu-Jítsu pra frente.

Não há como deixar de perguntar sobre a lendária luta entre o pupilo de Carlson Gracie e aquele lutador com um estilo peculiar que marcou o mundo da luta, em 1983… Como foi o famoso embate entre Fernando “Pinduka” X Marco Ruas?  (Assista ao combate épico no fim da matéria)

A luta aconteceu no Maracanãzinho em 30 de novembro de 1984. Era um desafio entre o Jiu-Jítsu X Luta Livre. O BJJ sendo desafiado logo após a morte de Rolls Gracie. Os escolhidos para defenderem o Jiu-Jítsu não tiveram tempo hábil para o treinamento, pois já tinha uma data marcada para o evento. Eu tive apenas 10 dias para um preparo físico, técnico, tático e emocional. Tive a grande colaboração do Mestre Hélio Gracie e do Mestre Reyson Gracie para que eu pudesse acelerar a minha preparação para luta e mostrar no evento a possibilidade de ganhar com alguma finalização. Ninguém conhecia ninguém. Eu não conhecia o Ruas (Marco Ruas). Depois vim saber que era um grande atleta e que além da luta livre, ele praticava outras modalidades. Um verdadeiro atleta e pronto para ingressar no que é hoje o MMA. E oito anos mais novo do que eu. Com as regras da competição, que apresentava uma luta de 15 minutos com 3 rounds de 5 minutos. Eu me senti muito prejudicado no meu desempenho e na ordem de sequência de movimentos, onde eu tinha que bloquear os golpes traumáticos, clinchar, derrubar e finalizar, e cinco minutos eram um tempo muito escasso para que eu pudesse desenvolver toda essa dinâmica contra um adversário muito bem preparado. Diante desses fatos o empate acabou sendo justo. Talvez, se as regras fossem mais reais, como nas antigas lutas dos Mestres Hélio e Carlson Gracie, o resultado poderia ter sido outro.

A maioria das Escolas de BJJ está intensificando, e muito, o esporte para competição, porém esquecendo a sua origem primária, principalmente a parte de defesa pessoal… Qual a sua opinião sobre o tema? O Senhor ainda ministra aulas de defesa pessoal na sua academia? 

O verdadeiro BJJ não pode existir sem a defesa pessoal que é a sua essência. O Jiu-Jítsu como esporte é muito válido. Eu participei como atleta por 15 anos e mais 15 como professor levando as minhas equipes para competições. Na minha academia, eu emprego esse método visando valorizar um BJJ com bases no desenvolvimento da saúde física, mental e espiritual.

Falando um pouco de competição atual, quais os nomes em destaque, na sua análise, que hoje mostram um Jiu-Jítsu que o agrada e merecem a sua crítica positiva?

Por estar voltado para um BJJ mais arte marcial, estou um pouco afastado das competições. Aqueles que eu pude acompanhar e que desenvolvem um Jiu-Jítsu mais parecido com o da minha época, que buscam a finalização, são: Roger Gracie, Kron Gracie, Ronaldo Jacaré, Rodolfo Vieira, Marcos  Buchecha, entre outros.

Trocação com Fernando “Pinduka”

Vale-Tudo X MMA

Vale-Tudo.

Ser Carlson Gracie é … 

Ser campeão.

Se não fosse o Pinduka do Jiu-Jítsu, o Fernando seria… 

Um zagueiro viril do Flamengo.

Livro:

Manuel do Guerreiro da Luz.

Música:

Keith Jarret.

Gastronomia:

Japonesa.

Recado final aos seguidores do NOCAUTE NA REDE! 

O jiu jitsu é uma arte marcial científica de ataque e defesa, é muito mais que uma simples competição, é uma alavanca propulsora para vencer na vida de forma plena e saudável, e no desenvolvimento emocional e espiritual. SÓ O JIU-JITSU SALVA!

Por fim, assista ao combate épico entre Fernando “Pinduka” X Marco Ruas.

Escrito por André Vieira Ribeiro

Fonte: http://nocautenarede.com.br/entrevista-fernando-pinduka/

Mestre Fernando Pinduka em entrevista ao programa Ring Transamérica

Mestre Fernando Pinduka em entrevista ao programa Ring Transamérica

Fernando Pinduka com Sergio Babú Gasparelli e Mestre Flavio Almendra. Foto: Ring Transamérica

Fernando Pinduka é uma verdadeira lenda da arte suave. Faixa-preta de Carlson Gracie, ele foi um dos nomes mais importantes do Jiu-Jitsu na década de 1980, e ficou conhecido pela épica batalha travada com Marco Ruas – terminada em empate – no Desafio Jiu-Jitsu x Artes Marciais, em 1984.

Numa entrevista à revista Tatame em Novembro último, Mestre Pinduka afirmou que “o Jiu-Jitsu de hoje é uma merda. Muito restrito. Nego luta por vantagem. A gente lutava para finalizar. Não acompanho mais os campeonatos. Começaram a eliminar várias situações. A finalização é o essencial. Mas aí, criaram a vantagem porque a finalização ficou difícil. Bate-estaca, hoje, dizem que é grosseria. A missão do professor é ensinar o movimento e a neutralização do movimento, ao invés de tirar o golpe do mercado. Vi o Jiu-Jitsu nascer e, atualmente, ele está cheio de restrições e federações. Pegou um caminho comercial e esportivo que as federações e dirigentes criaram para ele. Antes, era mais eficaz e eficiente para o dia-a-dia. Hoje, vejo faixa preta deixar o Jiu-Jitsu para ir treinar Krav Maga. Vejo faixa-pretas tomando porrada na rua. O Jiu-Jitsu perdeu a essência de defesa pessoal”,

fonte: Jiu-Jitsu Portugal.

 

GracieMag – Fernando Pinduka e Otávio Peixotinho

GracieMag – Fernando Pinduka e Otávio Peixotinho

 

No dia 18 de outubro o site GracieMag publicou um vídeo com os Mestres Fernando Pinduka (faixa vermelho-e-branca – 8º grau de Jiu-Jitsu) e Otávio Peixotinho (faixa-coral – 7ºgrau) demonstrando técnicas básicas de defesa pessoal. Segue abaixo o link da matéria.

Clique aqui.

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